Seven (Sete Pecados Mortais) – Crítica

Que David Fincher domina por completo a técnica, isso todos sabemos. Mas Fincher com este filme, conseguiu agradar ao público e à crítica, arriscando um argumento polémico, realizando um espelho da época em que está inserido.

Estamos em 2012 e venho falar de Seven, porque é um filme intemporal, que ganha credibilidade com o passar dos anos. Quatro anos antes de realizar Fight Club, David faz um filme capaz de degradar a condição humana, mas de uma forma mais sublime e muito mais discreta.

Logo nos créditos iniciais, temos uma visão clara do estilo visual que vamos ter ao longo do filme. Não são sustos ou soluções fáceis, mas sim um ambiente angustiante, que jamais em algum momento perde a sua força.

Se a sinopse deste filme possa parecer cliché, quando nos deixamos entranhar no enredo (e é muito fácil que aconteça) percebemos que estamos perante algo diferente, do que se faz em Hollywood.  E este “diferente” não precisa de ser incomodativo, não precisa de deixar de agradar ao mainstream. Há muito a retirar do filme, coisas superficiais capazes de agradar a gregos e a troianos e aspectos não tão visíveis, muito mais sublimes, que dão uma dimensão soberba a esta obra.

O duo policial aqui representado, apresenta-nos duas personagens tridimensionais, compostas pelo lado emocional (David Mills) e o lado culto, calmo e conhecedor da vida humana (Somerset). Para além disto temos o lado positivo e negativo. É nesta dualidade que se desperta algo que Seven vem apresentar: a apatia perante uma sociedade, onde a perda de valores é algo corriqueiro.

Temos de um lado, um jovem (Brad Pitt) acabado de chegar a uma nova cidade, no início da sua carreira ao lado da sua jovem mulher. Questões existenciais podemos observá-las em pormenores de conversas com o veterano detective (Morgan Freeman). A sua esposa (Gwyneth Paltrow a dar-nos um  toque feminino bestial) tem aqui um papel importante, embora pouco apareça, representa o outro lado humano que precisávamos para adoçar as expectativas e assim, compreendermos melhor a situação representada por Mills (Brad Pitt). Há mesmo cenas ou pormenores nos diálogos, que nos podem parecer indispensáveis à intriga, mas vejamos a intriga como aquilo que apenas põe a desenrolar um conjunto de factores, que nos mostram a condição humana.

Posto isto, temos do outro lado, um louco (como prefere chamar-lhe a sociedade) que tem como objectivo de vida fazer história. Fazer história através de sete assassinatos – que compõem uma obra intemporal a ser estudada e seguida por quem luta pelo bem comum – com um sentido por detrás de cada um deles (assassinatos), e se possa haver questões quanto à força desse sentido, John Doe (o serial Killer extremamente bem interpretado por Kevin Spacey) tira-nos todas essas dúvidas numa conversa dotada de um dialogo excepcional, entre ele e Mills (Brad Pitt). É neste diálogo que vêm ao de cima todas as pontas soltas das convicções de Doe, e a falta delas por parte do louco de emoção – David Mills.

“Nós vemos um pecado mortal em cada esquina, em cada lar, e toleramos. Toleramos porque é comum, é trivial.”

Os pormenores que tornam Seven intemporal e representativo de qualquer sociedade, são factos como nunca se dizer o nome da cidade onde tudo decorre. Desta forma, podemos avaliar estes valores em qualquer grande cidade moderna. Fincher aposta também em cores escuras e em cenas exteriores marcadas de chuva intensa – nunca saímos daquele clima opressivo, daquele ambiente claustrofóbico. Também durante todo o filme, é apenas apresentado um assassinato. O espectador quase não dá conta que só viu um, num meio tão “sujo” mas é a opção de Fincher… Mostrar-nos o cenário como quem nos dá asas para imaginar o que aconteceu ali. É psicológico, não é visualmente destrutivo. Prova disso, é que nos conseguimos encantar no meio de tudo isto, como é exemplo de Somerset embutido na cultura ao som de musica clássica.

O guião de Andrew Kevin Walker, dá-nos a conhecer as personagens ao longo de vários momentos intimistas, que seguem em todo o filme. Seja com o silêncio solitário de Somerset (Morgan Freeman), ou com a criança que há em Mills a brincar com os cães, passando pelo raro momento de alegria ao jantar.

Muitos consideram este final como um dos melhores do cinema, pela forma em como foi desvendado. Eu não acho e não querendo estragar a visão de quem ainda não viu, achei que se optou pelo lado “espectacular” e não pela continuidade da obra. Ou seja, o objectivo de Doe era chocar, certo! Até porque ele diz que “quando se quer a atenção de alguém não basta um toque de leve no ombro, tem de ser com um martelo” mas são pecados mortais. Cada vítima morreu pelo seu pecado. ATENÇÃO SPOILER – A esposa de Miller morreu pelo pecado dele – A Ira.

Este filme não deixa de ser um considerável 8.1 por todos os factores acima mencionados.

7 thoughts on “Seven (Sete Pecados Mortais) – Crítica

  1. Tiago diz:

    SPOILER: A esposa do Mills morreu pelo pecado do John Doe (a inveja), e não pelo pecado do Mills. A ira de Mills eu causa a morte de John Doe.

    • Sim compreendo Tiago, o que quis dizer foi que até agora tinham todos morrido pelos seu próprios pecados, embora não seja relevante para o bom entendimento, é só um comentário à precisão e facilidade de contornar um argumento difiícil 🙂

  2. Irwing Barbosa diz:

    Engraçado cá eu estou e fiquei doido pra ver como o assassino representaria a Ira,me surprrendi com o final muito bom realmente,ótima crítica.

  3. leandro diz:

    Desculpe pela minha visão temos um grande começo meio e ( fim ) esse filme é totalmente o que deveria ser! em tempo algum temos um tempo perdido ou seja do começo ao fim vemos atuações brilhante dos protagonistas o filme não apela para os sanguinário de hj mas inpacta de forma moderada. #Atenção spoiler # ————————-

    o assasino ao se apresentar na delegacia foi algo impecável asisti ontem pela primeira vez poucas vezes vi algo tão original e criativo ao mesmo tempo por conta do final incrível e chocante ele forçou a concluir sua obra! Mais uma vez vi um filme sem consultar analise nenhuma acertei mais uma vez estamos falando em gênios o Brad e Morgan 9.9

  4. Adriana diz:

    Juro que pensei ser uma emboscada para os dois morrerem, Brad pela ira e Morgan pela inveja da vida de Brad (por ter uma família, um futuro filho) Seria interessante tbm, só não imagino o desfecho desse final :p

  5. Shakaw TW diz:

    Sabe o que foi mais intrigante para mim na obra do John, ele puniu 6 pessoas sendo ele a 7° por seu próprio pecado ( a inveja), que ocasionou o 7° pecado (a irá), mas no lugar no irado morrer ocasionando 7 pecados e 8 punições, quem pagou com a vida foi a esposa do irá sendo a morte dela sua punição, deixando os números em 7 por 7 novamente, e o irá sobreviveu… ainda que após este evento não possamos chamar de vida o que vira pela frente, ele se torna-rá a personificação da irá a partir deste ponto ou cairá em um estado de profunda letargia.

  6. paolla diz:

    Eu queria entender so o final, se eles so toparam o acordo pra terem a confissão e ele nao alegar insanidade porque na voltinha de carro eles nao voltaram ja que estava tudo gravado no microfone? O final é legal por outros ângulos.

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